quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ERROU SENHORA PROFESSORA!





ERROU SENHORA PROFESSORA!


Camila Miranda serve como professora numa das escolas administradas por um pequeno município do interior do estado do Rio de Janeiro. Tem trinta e cinco anos e é solteira.  Sempre tem vivido a sua profissão com dedicação e carinho. Ela adora os seus alunos e alunas.
Durante cinco anos lecionou em Campo Grande, na zona oeste do Rio. Faz agora dez anos que exerce nesta pequena cidade. Habituada a viver na euforia da grande cidade, foi difícil para ela se habituar ao novo ambiente. Com o tempo, porém, se adaptou. Ela reconhece não ser fácil a sua profissão. Tem momentos em que o professor se sente abandonado. Como o Ministério da Educação não dá os apoios tão necessários ao ensino, o corpo docente muitas vezes é obrigado a improvisar para poder instruir suas classes.
Não se tem um programa definido para cada série. O professor ensina segundo aquilo que ele adquiriu ao longo dos anos. Nem sempre os poderes superiores se ocupam da atualização do ensino. Mesmo a Prefeitura tem suprimido certos gastos com a escola. Afirma que é devido à falta de verbas. Até mesmo está reduzindo a merenda escolar. Como a maior parte dos alunos são de condição modesta, ela cadastrou todas as famílias necessitadas na Bolsa-Escola e Bolsa-Família.  A Prefeitura, porém, até á data ainda não encaminhou os processos. A situação na sua classe de quarta série não é das melhores. É neste cenário que durante uma aula surgiu um incidente que a deixou transtornada. Com o coração nas mãos ela conta o sucedido:
- Um dos meus alunos me pergunta porque razão a bandeira nacional é verde e amarela. Eu tento explicar da melhor maneira possível afim de que toda a classe se possa beneficiar. O verde da nossa bandeira representa as maravilhosas matas e florestas que são consideradas como o pulmão da humanidade. O amarelo representa o ouro que o nosso subsolo possuiu e ainda possui. Nisto no fundo da classe a Marília Pimenta levanta a mão. Eu lhe concedi a palavra.
Com a sua voz fina e doce falou:
 - Errou senhora professora! Li um livro na biblioteca municipal que está explicando bem a razão das cores na bandeira do Brasil.
Eu fico de boca aberta, uma menina de onze anos está contradizendo o meu ensino! Eu sei que a Pimentinha é uma menina que lê muito. Lá em casa enquanto os pais e os irmãos mais velhos vêem a televisão ela devora livros. Não livros de quadrinhos ou estórias infantis, mas livros de bons autores. Ela tem já uma excelente cultura geral para a sua idade, mas ousar me contradizer é a primeira vez que o faz.
Aí pedi para ela explicar á classe o que aprendeu nesse tal livro. Com palavras simples de criança ela falou que não lembra o titulo do livro nem o nome do autor. Só sabe que foi escrito por uma senhora cujo nome ela desconhece como sendo escritora. O livro fala sobre a história da independência do Brasil. Conta a maneira como um tal José Bonifácio de Andrada e a Imperatriz Leopoldina de Áustria contribuíram para a independência do país. É aí que fala das cores da bandeira. Dona Leopoldina fazia parte duma nobre família Austríaca a chamada casa de Habsburg cuja cor é o amarelo. Dom Pedro I pertencia á casa real de Bragança a sua bandeira sendo ainda hoje de cor verde. Essa é a razão pela qual a bandeira portuguesa também tem o verde. O circulo interno azul corresponde a uma imagem da esfera celeste, inclinada segundo a latitude da cidade do Rio de Janeiro às 12 horas siderais (8 horas e 30 minutos) do dia 15 de novembro de 1889. Cada uma das estrelas representa um estado da federação.  A faixa branca da nossa bandeira é apenas um lugar para a inscrição do lema "Ordem e Progresso". Este lema foi criado pelo filósofo positivista francês Augusto Comte.
Eu fiquei sem graça porque não tive argumento para contradizer a minha aluna. Sou obrigada a reconhecer que os bons hábitos de leitura dela lhe dão muita sabedoria. Mesmo sendo a professora eu não poderia ter explicado o assunto tão bem como a aluna explicou. A verdade é que desconhecia tal fato histórico o que para mim é imperdoável... Durante todos estes anos lecionando, nunca ouvi falar nisso. Nem alguma vez li algo sobre isso. É verdade que devido á minha paixão pelas novelas na televisão leio muito pouco, é raro pegar um bom livro. Pergunto-me se não estou ficando analfabeta, mesmo sabendo ler, como cantou o poeta. Meditando em tudo aquilo que ouvi da minha aluna cheguei a esta conclusão: Se as cores da bandeira do Brasil se originam das matas e do ouro, então as palavras Ordem e Progresso terão de mudar para: Desordem e Retrocesso. Estas palavras descrevem bem a situação atual da Educação Escolar no Brasil. E o circulo azul em plano inclinado só pode representar as favelas do Rio de Janeiro e do país. As estrelas representam os milhares de crianças vivendo ali e que nunca entraram numa escola. Ah! Já estava esquecendo! Prometi acompanhar a Pimentinha na sua próxima visita á biblioteca municipal. Acho que não só vou ler o tal livro da autora desconhecida como com certeza vou escolher outros. Acho que o conselho literário da minha aluna me será muito útil na escolha dos melhores autores. Prometi também a mim mesma que a partir de agora vou cultivar bons hábitos de leitura.Esta experiência mostra a veracidade do que alguém falou um dia:


A BOA LEITURA ENRIQUECE A ALMA E O ESPÍRITO!
Victor Alexandre

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